6 semanas e um coraçãozinho batendo forte

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Finalmente o dia da consulta chegou.

Eu estava muito aflita e meu marido muito otimista.

Ao sentarmos em frente ao Dr. N. era fácil detectar as diferentes feições. Ele perguntou o porque de tanta ansiedade e entreguei meus exames apontando os do beta hcg e a pequena evolução entre eles. Ele logo disse: “Você tem razão para estar preocupada. Realmente não se trata de uma boa notícia”.

Antes de partirmos para o ultra, ele adiantou as possíveis causas daquilo estar acontecendo. Nenhuma delas foi novidade para mim, mas ouvir de um cara tão experiente, confirmou que minhas suspeitas não eram em vão, além de colocar o meu marido na “mesma página”.

A primeira possibilidade citada é a que ele chamou de “pior dos mundos”: o embrião estar instalado fora do meu útero. Disse que o fato de eu ter uma das trompas obstruídas aumentava bastante as chances de uma gravidez tubária. E que se isso estivesse acontecendo, deveríamos torcer para que ela se encerrasse o quanto antes, que meu corpo expelisse os restos naturalmente, sem a necessidade de uma intervenção cirúrgica. Caso a embrião evoluísse por mais tempo, me causaria hemorragia, rompimento dos tecidos e um baita mal estar. Que a necessidade de intervenção cirúrgica era muito grande, além do risco de perder a trompa de vez.

A segunda possibilidade, que ele chama de “melhor dos mundos” é o embrião estar instalado no útero, com aspectos normais e até quem sabe, com o coração batendo. Mas que se ainda não estivesse dando para ouvir, seria normal. Aguardaríamos mais alguns dias e faríamos uma nova tentativa, além de continuar acompanhando o beta hcg.

A terceira e “mais realista” opção é que o embrião estivesse menor que o normal, claramente não muito desenvolvido e até mesmo sem vida.

O mundo dentro de mim parecia desmoronar enquanto eu ouvia atentamente tais opções. Perplexa, me dirigi ao ultrassom transvaginal.

Ao inserir o aparelho, logo identifiquei um volume dentro do meu útero. Um mar de alívio veio junto: o pior dos mundos não estava acontecendo!

Ele analisou o aspecto do saco gestacional e do embrião que está medindo 3mm. Ativou o doppler colorido e nos mostrou o coraçãozinho piscando. Em termos de imagem, tudo absolutamente normal para uma gestação de 6 semanas! Caí num choro descontido.

Antes de ligar o som, ele disse que seria absolutamente normal se não fosse possível ouvir o coração, afinal estávamos com 6 semanas cravadas e já foi incrível ter visto o coração batendo. Talvez dois ou três dias antes não teria sido possível.

Assim que ele ligou o som, estava lá o coraçãozinho batendo a todo vapor pra quem quisesse escutar!

“Meu Deus, há esperança!”, pensei.

Ele estava claramente surpreso que tudo estava com aspecto absolutamente normal, mas disse que a pequena evolução do beta hcg continuava sendo uma má notícia. Que em 36 anos de experiência com fertilidade, ele só acompanhou dois casos em que a gravidez evoluiu normalmente.

“Será que estamos dentro deste 1%?”, pensei.

Ele prosseguiu dizendo que não sabe bem explicar o que houve nestes dois casos: se foram apenas exceções a regra, milagres ou se foram gestações que, por exemplo, começaram como gemelares (mais de um embrião) e logo um deles não desenvolveu, deixando resquícios de um beta hcg mais alto, em seguida mais baixo, tornando a medição do beta fora do padrão.

“Neste caso, a imagem não teria mostrado um segundo saco gestacional vazio ou alguns vestígio de um segundo embrião?”, perguntei ao doutor.

Ele disse que não necessariamente. Pois dependendo de quando aconteceu o aborto do segundo embrião, já deu tempo do corpo eliminar qualquer vestígio.

“E quais são os próximos passos?”, perguntei.

Ele me deu duas novas guias de beta hcg. Pediu para que eu colhesse o primeiro deles imediatamente. E que, novamente, “o melhor dos mundos” seria algum dos dois exames estar errado, o meu beta estar bem mais alto indicando uma gravidez absolutamente normal. Que se continuasse aumentando lentamente, passaríamos a monitorar tanto o beta hcg, quanto o ultrassom semanalmente. E que se tiver diminuído, para eu aceitar e esperar o aborto acontecer.

Em relação a esta última opção, tentou me mostrar o lado bom disso: que muitos dos abortos naturais ocorrem porque o embrião não seria um bebê saudável. Que, por exemplo, apenas 3% dos bebês com síndrome de down nascem e, portanto, 97% dos mesmos são expelidos naturalmente pelo corpo. Que caso o aborto aconteça, me apoiar na crença de que foi uma “seleção natural” pode ser um jeito saudável de encarar a situação e que num segundo momento virá um bebezinho em perfeitas condições de vir ao mundo.

Sabendo de todas as possibilidades, corremos para o laboratório para fazer um novo beta, torcendo para que ele tenha quintuplicado.

Mais um dia de longa espera: às 20 horas em ponto sai o resultado: 2751,0 mUi/mL, apenas 6 pontos a mais do beta de 4 dias atrás. Ou seja: sem características de boa evolução.

(Pausa)

Sensação do mundo desabando novamente.

(Pausa)

Talvez alguns de vocês pensem que tudo isso é um exagero. Que são “apenas” 6 semanas de gestação. Que 20% das mulheres perdem o bebê no primeiro trimestre. Que isso é comum.

Sim, é verdade. Mas nem todas as mulheres que perdem o bebê no primeiro trimestre esperaram dois ou mais anos para conseguir engravidar. Nem todas as mulheres que perdem o bebê no primeiro trimestre estavam em vias de realizar o maior sonho de suas vidas.

Mandei um whatsapp pro meu médico com o novo exame e ele ainda não me retornou.

Eu sei que boa notícia não é, mas estou aguardando para entender quais serão os próximos passos e se, de alguma forma, ainda tenho esperança.

Tudo que sei é que até ontem tinha um coraçãozinho batendo forte dentro do meu útero. Que se eu não tivesse feito um segundo beta hcg, teríamos saído do consultório como se tudo estivesse absolutamente normal. Mas algo (intuição, talvez?) me fez buscar checar a evolução do beta para hoje ter essa informação em mãos.

Estou triste, decepcionada, com medo. Buscando ter a serenidade de pedir para que o melhor aconteça, ainda que o “melhor” seja a gravidez não evoluir. Mas se nosso bebezinho for forte e saudável, que estejamos fora das estatísticas e que a vida se mostre maior do que a medicina é capaz de entender e explicar.

6 semanas e um coraçãozinho batendo forte

4 comentários sobre “6 semanas e um coraçãozinho batendo forte

  1. Ana Lanza disse:

    Boa noite!
    Estava procurando por respostas na Internet, auando encobtrei sua estoria. Estou vivendo o mesmo ‘drama’ que vc viveu. Tive uma gravidez tubaria ha seis anos atras, e ha 15 dias descobri que estava gravida! Um presente! Ficamos felizes de mais. Mas no primeiro Beta 1860 segundo 1980 e terceiro 2120, todos com espaço de dois dias. O mundo desmorona. A obstetra tira logo um pouco da esperança, e tudo que vc lê, te leva a criar mais e mais duvidas e medo.
    Gostaria de saber de seu caso, por favor. Como foi bem parecido com o meu, poderia me dizer como evoluiu sua gravidez? Estou com 4 ou 5 semanas, ainda nao conseguimos ver o saco gestacional formado no utero pela transvaginal.
    Desde já agradeço.
    Espero que tenha conseguido realizar seu sonho!

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    1. m. disse:

      Olá Ana, tudo bem? Sei exatamente o que você está sentindo. Aqui no blog eu conto tudo o que aconteceu, passo a passo. Mas resumidamente, essa minha gestação evoluiu normalmente até 8 semanas e 4 dias. Examinei o feto e não havia nada de errado com ele. Simplesmente não foi pra frente. Nunca saberei se o beta não subir adequadamente era o indicativo disso ou não. Espero que as coisas dêem certo para você. Força e fé!

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  2. Marcelo disse:

    Oi..
    eu e minha esposa estamos passando por situação parecida. ansiosos e sei que não é nada fácil. só postei essa mensagem para falar para todos que lerem aqui ou outros lugares, relatos bons ou ruins, acreditem e não deixem de tentar. tempo de Deus é diferente do tempo nosso. tenham fé!!

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